terça-feira, 14 de agosto de 2012

Reportagem publicada domingo 12 no Novo Jornal







A máxima que fala que tem homens que saem do interior, mas o interior nunca sai deles, se aplica perfeitamente bem e sem espaço para sarcasmos, nas cores, formas e na vida típica do homem da roça, que brotam nas pinturas em arte naïf de Edilson Araújo, 62. Nascido no Sítio São Roque, e criado na cidade de Ouro Branco (RN), ele está radicado há mais de 40 anos no coração de São Paulo, onde desenvolveu sua arte, criou seus filhos, ganhou netos e viveu maior parte da sua vida. A única ironia nessa história é que apesar de ser bastante conhecido no Brasil e no exterior, de ter quadros seus nas mãos de colecionadores estrangeiros e em galerias do Brasil e resto do mundo, só agora, durante o Agosto da Alegria 2012 - É Festa para Deífilo, que Natal abriga pela primeira vez uma mostra individual do filho da terra. A exposição "Ouro Branco nas telas de Edilson Araújo", teve vernissage na quinta-feira passada e ficará aberta à apreciação pública até 9 de setembro, no Palácio Potengi - Pinacoteca do Estado. Os quadros estão à venda, com preços que variam de R$ 500 a R$ 1 mil.

Araújo reflete que, se tivesse fixado sua vida onde nasceu, provavelmente não teria muita chance de desenvolver a aptidão artística. É fato que ele já desenhava desde pequeno, mas só quando veio servir o Exército em Natal, que viu pela primeira vez um quadro em uma vitrine e percebeu que era aquilo que queria fazer na vida e como diz, "começou a praticar". De Natal, partiu para São Paulo onde se tornou carteiro dos Correios: "Eu entregava minhas cartas até meio-dia e depois ia fazer minhas pinturas", diz o artista. O talento, inclusive, teve reconhecimento da empresa, que o incentivava, publicando selos e aerogramas ilustrados com desenhos seus. Passou 11 anos no ofício de carteiro. E, a partir de 1980, dedicou-se por inteiro à sua arte primitiva moderna ou, como costumam denominar os críticos: "Arte Naïf". Foi naquele ano que, de acordo com as palavras do marchand Antônio Marques, no catálogo que informa sobre a exposição, Araújo foi selecionado para o Salão Nacional de Artes Plásticas Alberto Santos-Dumont, no Parque Ibirapuera (SP), criado para incentivar os novos talentos.

De voz tranquila, jeito muito simples e com profunda demonstração de humildade - movimento inclusive atípico dos artistas - Edilson Araújo faz questão de citar outro naïf, Dirceu Carvalho, como um grande incentivador e colaborador do seu trabalho: "Ele conheceu minhas pinturas e disse que eu tinha talento. Quando ele era convidado para participar de mostras e feiras e não queria ir, me botava em seu lugar. E foi assim que fui ficando conhecido", reconhece.

Embora venha sempre ao Rio Grande do Norte visitar seus parentes, foi só há cerca de um ano e meio que a arte de Araújo foi percebida por um colecionador local, o juiz Geomar Brito Medeiros. "Ele foi no meu atelier (que fica em sua própria casa) porque queria comprar obras de pintores naïf", conta. A apreciação foi tão boa que o juiz levou 18 obras de Araújo de uma vez. No início desse ano, a secretária Extraordinária de Cultura do RN, Isaura Rosado, e Antônio Marques estiveram na casa de Edilson Araújo para fazer o convite de sua participação na segunda edição do Agosto da Alegria. Seguindo os passos do ano passado que apresentou ao Estado a individual do outro potiguar, radicado em Goiás, Fé Córdula. "Em toda exposição da gente dá um frio na barriga. Esse em especial, porque eu me sinto muito emocionado pelo reconhecimento e a importância desse evento no Estado", diz Araújo, sobre o convite

Indagado sobre o porquê de ter demorado tanto tempo para ele ser descoberto pelo Estado, ele sorri timidamente e responde: "Boa pergunta, porque eu também não sei". Autodidata, o primeiro desenho que causou impacto nas pessoas foi um que retratava o grupo escolar onde estudou em Ouro Branco, feito de caneta esferográfica vermelha e azul. Desde que passou a pintar profissionalmente até agora já são 32 anos de um ofício que ele foi aprendendo enquanto praticava. "Tem gente que pensa que eu estudei. Mas não, fui aprendendo enquanto fazia". A temática nordestina se repete a cada quadro pincelado, sem cansar o olhar do apreciador, porque vem de um homem que não esquece suas origens. Muito pelo contrário, se transforma de lembranças e memórias para obra-prima.

Circuito Artes Plásticas Agosto da Alegria 2012
Ouro Branco nas Telas de Edilson Araújo
Dias: até 9 de setembro
Local: Pinacoteca do Estado
Hora: 8h às 20h
Preços: R$ 500 a R$ 1 mil.

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