A máxima que fala que tem homens
que saem do interior, mas o interior nunca sai deles, se aplica perfeitamente
bem e sem espaço para sarcasmos, nas cores, formas e na vida típica do homem da
roça, que brotam nas pinturas em arte naïf de Edilson Araújo, 62. Nascido no
Sítio São Roque, e criado na cidade de Ouro Branco (RN), ele está radicado há
mais de 40 anos no coração de São Paulo, onde desenvolveu sua arte, criou seus
filhos, ganhou netos e viveu maior parte da sua vida. A única ironia nessa
história é que apesar de ser bastante conhecido no Brasil e no exterior, de ter
quadros seus nas mãos de colecionadores estrangeiros e em galerias do Brasil e
resto do mundo, só agora, durante o Agosto da Alegria 2012 - É Festa para
Deífilo, que Natal abriga pela primeira vez uma mostra individual do filho da
terra. A exposição "Ouro Branco nas telas de Edilson Araújo", teve
vernissage na quinta-feira passada e ficará aberta à apreciação pública até 9
de setembro, no Palácio Potengi - Pinacoteca do Estado. Os quadros estão à
venda, com preços que variam de R$ 500 a R$ 1 mil.
Araújo reflete que, se tivesse
fixado sua vida onde nasceu, provavelmente não teria muita chance de
desenvolver a aptidão artística. É fato que ele já desenhava desde pequeno, mas
só quando veio servir o Exército em Natal, que viu pela primeira vez um quadro
em uma vitrine e percebeu que era aquilo que queria fazer na vida e como diz,
"começou a praticar". De Natal, partiu para São Paulo onde se tornou
carteiro dos Correios: "Eu entregava minhas cartas até meio-dia e depois ia
fazer minhas pinturas", diz o artista. O talento, inclusive, teve
reconhecimento da empresa, que o incentivava, publicando selos e aerogramas
ilustrados com desenhos seus. Passou 11 anos no ofício de carteiro. E, a partir
de 1980, dedicou-se por inteiro à sua arte primitiva moderna ou, como costumam
denominar os críticos: "Arte Naïf". Foi naquele ano que, de acordo
com as palavras do marchand Antônio Marques, no catálogo que informa sobre a
exposição, Araújo foi selecionado para o Salão Nacional de Artes Plásticas
Alberto Santos-Dumont, no Parque Ibirapuera (SP), criado para incentivar os
novos talentos.
De voz tranquila, jeito muito
simples e com profunda demonstração de humildade - movimento inclusive atípico
dos artistas - Edilson Araújo faz questão de citar outro naïf, Dirceu Carvalho,
como um grande incentivador e colaborador do seu trabalho: "Ele conheceu
minhas pinturas e disse que eu tinha talento. Quando ele era convidado para
participar de mostras e feiras e não queria ir, me botava em seu lugar. E foi
assim que fui ficando conhecido", reconhece.
Embora venha sempre ao Rio Grande
do Norte visitar seus parentes, foi só há cerca de um ano e meio que a arte de
Araújo foi percebida por um colecionador local, o juiz Geomar Brito Medeiros.
"Ele foi no meu atelier (que fica em sua própria casa) porque queria
comprar obras de pintores naïf", conta. A apreciação foi tão boa que o
juiz levou 18 obras de Araújo de uma vez. No início desse ano, a secretária
Extraordinária de Cultura do RN, Isaura Rosado, e Antônio Marques estiveram na
casa de Edilson Araújo para fazer o convite de sua participação na segunda edição
do Agosto da Alegria. Seguindo os passos do ano passado que apresentou ao
Estado a individual do outro potiguar, radicado em Goiás, Fé Córdula. "Em
toda exposição da gente dá um frio na barriga. Esse em especial, porque eu me
sinto muito emocionado pelo reconhecimento e a importância desse evento no
Estado", diz Araújo, sobre o convite
Indagado sobre o porquê de ter
demorado tanto tempo para ele ser descoberto pelo Estado, ele sorri timidamente
e responde: "Boa pergunta, porque eu também não sei". Autodidata, o primeiro desenho
que causou impacto nas pessoas foi um que retratava o grupo escolar onde estudou
em Ouro Branco, feito de caneta esferográfica vermelha e azul. Desde que passou
a pintar profissionalmente até agora já são 32 anos de um ofício que ele foi
aprendendo enquanto praticava. "Tem gente que pensa que eu estudei. Mas
não, fui aprendendo enquanto fazia". A temática nordestina se repete a
cada quadro pincelado, sem cansar o olhar do apreciador, porque vem de um homem
que não esquece suas origens. Muito pelo contrário, se transforma de lembranças
e memórias para obra-prima.
Circuito Artes Plásticas Agosto
da Alegria 2012
Ouro Branco nas Telas de Edilson
Araújo
Dias: até 9 de setembro
Local: Pinacoteca do Estado
Hora: 8h às 20h
Preços: R$ 500 a R$ 1 mil.
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