quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"Sou um contador de histórias" - Ariano Suassuna encanta plateia do Agosto da Alegria


"Sou um contador de histórias". A frase representativa foi dita pelo escritor Ariano Suassuna durante sua Aula Espetáculo no Largo do TAM, que ocorreu na terça-feira, 23, dentro do Programa do Governo do Estado Agosto da Alegria. Durante cerca de uma hora, o contador de histórias trouxe para si a atenção, a empatia e a descontração de aproximadamente 2,5 mil pessoas e, imediatamente quando encerrou sua aula que misturou anedotas, noções de filosofia e literatura, deixou saudades.

Suassuna foi professor de Filosofia da Arte e, dentro de uma simplicidade e conhecimento adquiridos ao longo dos seus 84 anos, avisou à plateia, composta por muitos alunos pre-vestibulandos que foram ouvi-lo falar sobre a obra O Santo e a Porca, que não se assustasse porque o "estudo da Filosofia da Arte pode ser bom e divertido". E estava certo. Embora estivesse lhes dando noções de como é concebida a literatura clássica, de vez em quando sua fala era interrompida pelas risadas da plateia. Suassuna falou sobre dois dos campos no qual a literatura pode ser trabalhada: o doloroso e o risível. E dividiu-os em dois grupos: trágico e dramático e cômico e humorístico. "Todo acontecimento trágico é doloroso, mas nem tudo que é doloroso é trágico", ensinou, citando Ghandi, como exemplo de um herói trágico que carrega em si caracteríticas como o  "representativo e excepcional". "O herói trágico busca o conflito e procura seu destino", explicou. Enquanto que, segundo suas explicações, o herói dramático é um homem comum a quem é dado um destino excepcionalmente doloroso.

Para falar sobre os grupos cômico e humorístico, caminhos que precediam suas explicações para o Santo e a Porca, Suassuna levou a referência do povo brasileiro, espirituoso o suficiente para rir de suas próprias desgraças e misérias. "O povo brasileiro tem esse traço simpático de provocar o riso de si mesmo", sentenciou e explicou à plateia, depois de contar uma piada sobre dois cegos, que o riso muitas vezes é provocado daquilo que, aparentemente é trágico. E que isso na literatura se trata de uma "inversão".

"O cômico é uma desarmonia sem grandes consequências. Para Bergson (Henri Bergson) existe no autor cômico a obrigação de anestesiar a sensibilidade. Essa piada que eu contei agora sobre os dois cegos, e que vocês riram, se a gente for parar para pensar na situação, é de uma tragicidade sem tamanho. De maneira que eu criei a situação do cômico nessa história terrível, pela repetição, e utilização de alguns gestos que fiz para distrai-los", explicou.

Para chegar ao Santo e a Porca, Suassuna falou do humorístico, citando o filme Luzes da Ribalta e a personagem Carlitos, de Charles Chaplin, como uma referência: "o humorístico junta o doloroso com o trágico. Esse filme e os demais de Charles Chaplin têm situações profundas, mas que levam ao cômico. O Santo e a Porca é uma comédia que no fim termina comovendo as pessoas. Eu fiz uma tragicomédia". Suassuna finalizou a palestra dizendo que sua pretensão ao criar a peça O Santo e a Porca foi chamar atenção para o conflito existente entre o sacro, simbolizado pelo "Santo" que representa a ideia de Deus, e o profano, simbolizado pela "Porca", que representa o dinheiro, a avareza e aquilo que é material.

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