A expectativa era unânime por todos os presentes no Teatro Alberto Maranhão e que aguardavam, no Dia Mundial do Teatro, a "conversa" de José Celso Martinez Correa. Não seria uma noite de terça-feira qualquer se dependesse do que havia sido mostrado na oficina do dia anterior. E, assim o foi, no segundo dia do evento que também comemorava os 108 anos do TAM, a "palestra" mostrou que nessa data comemorativa tão importante para a cultura norte-rio-grandense, a Seculturn/FJA não poderia ter trazido alguém mais lendário, inscrevendo-se na história das celebrações a essa arte.
A abertura da conversa de Zé Celso contou com a palavra da secretária extraordinária de Cultura, Isaura Rosado, que enalteceu a importância do teatro e a obrigação de se celebrar essa data e foi mais além: "não só a data, mas o grande espetáculo que é a vida, que acontece no palco e na plateia". Rosado também acrescentou que aquele momento era o exemplo de "um grande banquete antropofágico", parafraseando Oswald de Andrade, e continuando: "para comer e beber a experiência mágica que é o outro".
José Celso Martinez foi recebido e aplaudido de pé pela plateia. Ele passou pouco tempo em cima do palco e logo desceu para a plateia – numa clara referência à feitura do seu fazer teatral – que aboliu a forma tradicional de apresentação no tradicional palco italiano, na busca por uma integração e interação com o público. Logo a conversa se transformou num só coro que dançou e cantou junto com ele o samba-enredo da Vila Izabel, escrito por Flávio Rangel: "Samba do Teatro Brasileiro", trabalhado na oficina da segunda-feira, e que no espetáculo da terça, contou com cinco batucadores do Grupo Pau e Lata, para dar o tom de festa dentro do TAM.
O dramaturgo e fundador do Teatro Oficina Uzyna Uzona disse estar deslumbrado com a imponência do TAM e que já havia se apresentado na década dos anos 1970, naquele palco. "Essa casa centenária lembra a era de Shakespeare, nos tempos áureos do teatro mundial", disse, acrescentando que "em nenhum estado da Federação (brasileira) se estaria celebrando o Dia Mundial do Teatro com aquela ênfase". Durante sua conversa, chamou a diretora do TAM, Dione Caldas, para que juntos erguessem as taças e fizessem um brinde ao teatro. E assim, tomando vinho e falando sobre diversos temas, desde os sociais, políticos e seu fazer artístico, Zé Celso tecia a rede envolvente sobre as origens do teatro e a história do Deus Dionísio (ou Baco), que deu origem a uma das principais encenações do Grupo Oficina, "As Bacantes", recém encenada na Bélgica e Portugal. Criticou o momento vivido pela cultura nacional, que sofre um retrocesso ao ser tratada de forma tecnocrata e a necessidade do surgimento de "heróis da cultura", nesse processo de renascimento e redescoberta.
Ao aclamar Alberto Maranhão – governador que dá nome àquela Casa Centenária - mecenas das artes do Estado, Zé Celso convidou todos a subirem no palco e participarem de uma grande ciranda, valorizando o corpo, a atuação, o homem e a alma mágica do teatro e da cultura indígena brasileira. A nudez no palco, conceito que se transforma de maneira recorrente no seu fazer teatral em ação, surgiu de maneira natural após Zé Celso convidar os participantes da ciranda a se colocarem de maneira "natural" e sem roupa. Alguns toparam o desafio, mostrando-se como vieram ao mundo.
Texto: Sheyla Azevedo e Denise Barcelos
Fotos: Anchieta Xavier
Fotos: Anchieta Xavier
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