sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Encontro reúne pesquisadores e brincantes para discutir e celebrar a arte de manipular bonecos


Até próximo sábado, 3/09, o I Encontro de Bonecos e Bonequeiros do RN, que ocorre no Museu do Homem Missioneiro, na Vila Feliz em Pium, reúne pesquisadores para discutir essa manifestação tradicional que se mantém viva em vários estados do Nordeste brasileiro e em cidades como Brasília (DF) e Belém (PA).

Segundo Maria das Graças Cavalcanti Pereira, professora e pesquisadora da UFRN e presidente da Associação Potiguar de Teatro de Bonecos (Apotb), o objetivo central desse Encontro é fazer com que as pessoas conheçam o João Redondo. Hoje, sexta-feira, a programação com discussões seguem na Vila Feliz em Pium, a partir das 8h30 e vão até as 14h. A partir das 19h, no Palácio Potengi, o público pode ver as apresentações de Mestres de Riachuelo, São Rafael e Bento Fernandes. Às 19h30, no Museu Café Filho, Mestres de Currais Novos e Natal. E às 20h, na Praça André de Albuquerque, terá a apresentação do Mestre Ivo Bezerra, da capital. Amanhã, com o encerramento, haverá uma grande apresentação de mestres bonequeiros na Feira do Alecrim, das 9h às 11h.
 Quem abriu as discussões de ontem, quinta-feira, na Vila Feliz, foi o professor Dr. Ricardo Eiker Canella, da UFPB, falando sobre a temática “A Construção do Personagem no João Redondo de Chico Daniel”, atentando para características daquele mestre dos bonecos, como a “caricaturização” das vozes. “Ele era um homem tímido, mas que quando se colocava atrás do biombo se revelava uma pessoa extremamente desenvolta e engraçada, fazendo vozes diferentes para dar vida às suas histórias que agradavam a crianças e adultos”, disse em certo momento da palestra.
 A presidente da Apotb, Graça Cavalcanti, também palestrante, aproveitou o momento para agradecer o incentivo da Secretaria Extraordinária de Cultura e Fundação José Augusto (Secultrn/FJA) ao inserir os brincantes de João Redondo no Agosto da Alegria. Disse ainda, que diante da existência de muitas denominações – em outros Estados os bonecos são chamados de Calungas, Mamulengos, para designar o mesmo tipo de brincadeira – a Apotb preferiu imprimir o nome original para o Encontro, chamando o João Redondo de Boneco, a forma que é tradicionalmente conhecido. De acordo com ela, historicamente a tradição da brincadeira é predominantemente masculina e talvez isso explicasse o número de homens presentes na platéia.
O palestrante seguinte veio do Rio de Janeiro falar sobre “Memória e História no teatro de João Redondo no RN”. Ex integrante de um grupo de teatro de bonecos chamado A Revisão, o professor Umberto Braga viajou o Brasil todo se dedicando totalmente à cultura popular. Em 1980, levou para a Organização dos Estados Americanos (OEA), nos EUA, uma exposição sobre o Teatro Popular de Bonecos do Nordeste.  De acordo com ele, vários países tiveram essas manifestações, mas deixaram de cultivá-las e hoje o Brasil é o único país que a mantém viva.  Ele ressaltou que Encontros como esse que estava participando É a “prova de que essa brincadeira ainda está bem viva”, declarou.
 Dentre os participantes do evento, um chamava atenção pela pouca idade, se comparada aos demais bonequeiros. Era Geraldo Zacarias, 31, vice presidente da Apotb, que revelou ter aprendido o “ofício” lá pelos 16 anos, por influência de familiares. Zacarias, que nasceu em João Câmara, é historiador formado pela UFPB e leciona em Pureza.

Segundo explicou, a manipulação do João Redondo tem duas motivações: “gostar do que faz e também porque é esse é um dos teatros mais antigos do mundo, capaz de mexer com a imaginação popular”. A paixão pelo teatro de bonecos ele pretende passar para o filho, que tem apenas 3 anos, mas já gosta de brincar com os bonecos. É dessa forma que a tradição encontra a possibilidade de se manter viva, passando de geração a geração.

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