A Pinacoteca do Estado abre à visitação pública pelo período de um mês, no próximo dia 4 abril, a coleção de arte naïf pertencente a seu acervo permanente. Um conjunto de obras representativas dessa escola intuitiva de pintura ingênua que tem, no Rio Grande do Norte, notáveis cultores, dentre os quais destacam-se nomes como Fé Córdula, Nivaldo, Edson Araújo, Ivanise, Fernando Gurgel, Iran, Maria do Santíssimo, Paixão, Ivone Mendes, Vatenor e Arruda Sales.
Para o escritor e
jornalista Franklin Jorge, diretor-geral da Pinacoteca do Estado, Artistas
Naïfs no Acervo da Pinacoteca é a primeira ação concreta do projeto
"Para compreender as formas artístico-semióticas das artes
plásticas". Essa iniciativa, segundo ele, inaugura um ciclo de atividades
que expressam a filosofia de trabalho adotada pela atual gestão, de realizar
“atividades consubstanciadas em foco didático-pedagógico, a serviço da
democratização do conhecimento e da informação”.
Interiorizar ações e integrar as manifestações artísticas dos diversos municípios, é um dos objetivos centrais da equipe capitaneada por Franklin Jorge. “Nós que pensamos a atual gestão da Pinacoteca do Estado, esmeramo-nos em acolher o novo, as diversas e as mais vivas expressões audiovisuais contemporâneas, bem como difundir as nossas melhores expressões artísticas, atividades confiadas à curadoria da artista Sayonara Pinheiro. Queremos não propaganda, mas, inclusão, conhecimento e informação. Enfim, a cultura como uma força ativa, não uma representação vazia da realidade”.
Interiorizar ações e integrar as manifestações artísticas dos diversos municípios, é um dos objetivos centrais da equipe capitaneada por Franklin Jorge. “Nós que pensamos a atual gestão da Pinacoteca do Estado, esmeramo-nos em acolher o novo, as diversas e as mais vivas expressões audiovisuais contemporâneas, bem como difundir as nossas melhores expressões artísticas, atividades confiadas à curadoria da artista Sayonara Pinheiro. Queremos não propaganda, mas, inclusão, conhecimento e informação. Enfim, a cultura como uma força ativa, não uma representação vazia da realidade”.
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Arte naïf: contraponto ao real
Por Márcio de Lima
Dantas*
A arte naïf, na História
da Pintura, é uma linha de continuidade que segue paralela à arte acadêmica,
embora não se possa atribuir superioridade formal a última. O ethos desses
“ingênuos” é uma simplicidade despojada de muitos procedimentos manuseados pela
arte acadêmica, como a perspectiva, por exemplo.
A história da arte é composta de tradições que, muitas vezes, seguem paralelas. A chamada arte naïf configura um afluente com dicção extremamente própria. Conclamada a representar o mundo de uma maneira bastante diferente das convenções pictóricas religiosas ou burguesas, alargou seu domínio, fazendo-se extremamente popular. Há que se inquirir das razões pelas quais esse código pictural necessitou de todo um conjunto de procedimentos, muitas vezes peculiares, para cristalizar uma mesma realidade vivenciada pelo humano.
Eis um mundo feito de múltiplas cores e formas justapostas, onde os olhos cansados da realidade concreta repousam nessa comarca inventada para estabelecer um contraponto à realidade. Realidade que se firma pelas vicissitudes, outorgando ao humano o eterno embate entre as forças que lhe são antípodas, portadoras do sofrimento. A arte ingênua proclama um discurso no qual faz saber que a realidade detém um hiato incomensurável de incompletude e de demandas que nunca serão atendidas e, talvez, por isso, opte por cenas nas quais vigoram uma serenidade rarefeita na vida de todos os dias.
A história da arte é composta de tradições que, muitas vezes, seguem paralelas. A chamada arte naïf configura um afluente com dicção extremamente própria. Conclamada a representar o mundo de uma maneira bastante diferente das convenções pictóricas religiosas ou burguesas, alargou seu domínio, fazendo-se extremamente popular. Há que se inquirir das razões pelas quais esse código pictural necessitou de todo um conjunto de procedimentos, muitas vezes peculiares, para cristalizar uma mesma realidade vivenciada pelo humano.
Eis um mundo feito de múltiplas cores e formas justapostas, onde os olhos cansados da realidade concreta repousam nessa comarca inventada para estabelecer um contraponto à realidade. Realidade que se firma pelas vicissitudes, outorgando ao humano o eterno embate entre as forças que lhe são antípodas, portadoras do sofrimento. A arte ingênua proclama um discurso no qual faz saber que a realidade detém um hiato incomensurável de incompletude e de demandas que nunca serão atendidas e, talvez, por isso, opte por cenas nas quais vigoram uma serenidade rarefeita na vida de todos os dias.
Um mundo organizado, quase
sempre, em duas dimensões: comprimento e largura, suficientes para metaforizar
uma paisagem na qual a perspectiva pode ser desprezada, não fazendo falta a
quem busca edificar uma outra realidade cujo espírito é o do equilíbrio e de
uma alegria bucólica expressas numa profusão de cores contrastantes.
A arte naïf optou pela
dimensão esporádica da condição humana: os momentos quebrantados de festa, as
paisagens onde predominam a tranquilidade, a paz no seu estado de torpor e
exceção. A bem da verdade, o que pouco vigora nos dias de trabalho e
atribulações.
A escolha de retratar um
mundo inexistente de ingenuidade e harmonia lança seus vetores de memória para
um passado inscrito na fronteira do sonho e da idealização, pois todo tempo
social se representa por formas de viver e sentir como inferiores aos de
outrora. O Passado sempre é apresentado como superior em costumes e moral.
Assim sempre foi. Quem sabe, isso explique o cariz de passado, a atmosfera de
um tempo perdido, de um tempo justo sem mais retorno.
O Estado do Rio Grande do
Norte destaca-se como detentor de uma grande quantidade de pintores naïfs nos
seus tantos municípios. Nossa amostra apresenta o conjunto de obras integrantes
do acervo da Pinacoteca do Estado.
(*) Márcio de Lima
Dantas, professor adjunto da UFRN, é colaborador voluntário da Pinacoteca do
Estado
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