segunda-feira, 18 de março de 2013

Um Dia da Poesia que ficou na história, por Franklin Jorge

 
Texto reproduzido no Novo Jornal, em 17/03/2013.
 
Ao assumir a direção da Pinacoteca do Estado assumi também, em minha consciência, o dever de contribuir, - através de uma gestão pluralista -, para a valorização e reconhecimento de reais talentos e de empreendimentos e iniciativas que tem resultado em um bem para todos. Foi pensando assim, a partir dessa nova perspectiva de atuação na cultura ou filosofia de trabalho, que urdimos as comemorações do Dia da Poesia, numa contribuição ao calendário que, ao cair no gosto do natalense, tornou-se a poesia uma festa popular da nossa cidade.

Nesse primeiro evento realizado na Pinacoteca do Estado sob a atual gestão, ficou evidenciado o esforço que temos feito para a implantação de um projeto de interiorização da cultura e uso efetivo das Casas de Cultura espalhadas pelos municípios, a maioria sem nenhuma serventia, sem trabalho e sem filosofia de vida. E, como fruto desse novo paradigma que deve reger as ações da Pinacoteca do Estado, antes desprovida de uma filosofia para viver e agir, buscamos integrar as mais diversas expressões artísticas disseminadas pelos municípios, como a Orquestra de Violinos, o Corangelis e a Banda Filarmônica, que nos enviaram os prefeitos de Goianinha e de Macau.

Até aqui temos trabalhado sob a regência duma ideia, a de transformamos a Pinacoteca do Estado na sala de visitas da cultura em Natal, contribuindo assim para a democratização das artes audiovisuais, como ocorreu recentemente no Dia da Poesia, ao trazermos para audições públicas grupos musicais oriundos dos municípios de Goianinha e Macau, ainda pouco divulgados na capital do estado. Foram dois grandes momentos de uma festa “que bombou”, segundo se ouvia pelas escadarias do Palácio Potengi, nos quais nos deleitamos com a experiência musical que nos proporcionou esses grupos em atuação em dois municípios situados em diferentes regiões do estado, sobre os quais tenho a dizer que tem colaborado, cada um à sua maneira, para despertar e fortalecer a autoestima dos jovens através do estudo e da atividade artística, com que fomos brindados em apresentações no Dia da Poesia na Pinacoteca. Uma plêiade de talentos jovens bem instruídos e orientados nas sutilezas da arte musical por três notáveis regentes que estão realizando, e seus respectivos municípios, uma obra meritória de educação popular. A prova de que, apesar de governantes ineptos e indiferentes às realizações, a cultura está em toda parte.

Registre-se aqui a contribuição inestimável da secretária de cultura de Goianinha, Ana Maria Barbalho Teixeira e sua equipe afinada, e o presidente da Fundação Municipal de Cultura, de Macau, Chico Paraíba, que nos mandou a Banda Filarmônica, que encantou a todos e encerrou em grande estilo a celebração da poesia. Ajudaram-nos a estabelecer um formato de evento regido pela pluralidade de expressões estéticas que incluem a literatura, com a revelação de um jovem poeta vindo de Pau dos Ferros, de apenas 22 anos, Yuri Hícaro, que lançou o seu primeiro livro ao lado de um veterano, Diógenes da Cunha Lima.

E, ainda em louvor da poesia, tivemos aqui e em Mossoró a presença inquietante do poeta Thiago de Mello, que nos veio com sua arte da palavra e sua utopia, sua grande experiência de vida e, sobretudo – para maior vivacidade da cultura -, suas provocações inspiradoras para todos nos que pensamos a Pinacoteca do Estado e, creio, também, os que o ouviram em Natal e em Mossoró, num dia que certamente há de ficar na história da nossa cultura. Em Natal foi saudado por um outro poeta e critico literário Paulo de Tarso Correia de Melo.

Tivemos, nesse dia, até para a surpresa de funcionários da Pinacoteca, um acontecimento que tirou da letargia e do marasmo em que vivia, sem filosofia e sem alma, o antigo Palácio Potengi. O belo e sóbrio edifício de linhas neoclássicas atraiu, nesse dia, uma numerosa plateia que queria ouvir o último grande poeta de sua geração e deleitar-se com a experiência vivida de um revolucionário que foi para os de minha geração uma espécie de farol, uma luz que se acendia em “tempos de chumbo” e glorificava a liberdade e a esperança.

Ao anunciar os frutos de quase três meses de trabalho à frente da Pinacoteca do Estado, minha equipe e eu, sentimos que aqueles dias marcados por grandes dificuldades, produziram bons frutos, como a realização do Dia da Poesia e a parceria que esperamos manter com os municípios, em nosso empenho na propagação da cultura autêntica, não de uma cultura de eventos carnavalescos. Sobretudo quisemos, em nossa primeira ação à frente da Pinacoteca, romper com o comodismo e a falta de utopias que nos mantém, no âmbito da cultura dita “oficial”, paralisados, e, ao mesmo tempo, através de um evento que conjugou as mais diversas formas de expressão artística, estabelecer um novo paradigma, começando por mudar o que precisa ser mudado. Queremos, não propaganda, informação e conhecimento; enfim, a cultura como uma força ativa, não como uma representação vazia da realidade.

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