Texto reproduzido no Novo Jornal, em 17/03/2013.
Ao assumir a direção da Pinacoteca do Estado assumi também, em
minha consciência, o dever de contribuir, - através de uma gestão
pluralista -, para a valorização e reconhecimento de reais talentos e de
empreendimentos e iniciativas que tem resultado em um bem para todos.
Foi pensando assim, a partir dessa nova perspectiva de atuação na
cultura ou filosofia de trabalho, que urdimos as comemorações do Dia da
Poesia, numa contribuição ao calendário que, ao cair no gosto do
natalense, tornou-se a poesia uma festa popular da nossa cidade.
Nesse primeiro evento realizado na Pinacoteca do Estado sob a atual
gestão, ficou evidenciado o esforço que temos feito para a implantação
de um projeto de interiorização da cultura e uso efetivo das Casas de
Cultura espalhadas pelos municípios, a maioria sem nenhuma serventia,
sem trabalho e sem filosofia de vida. E, como fruto desse novo paradigma
que deve reger as ações da Pinacoteca do Estado, antes desprovida de
uma filosofia para viver e agir, buscamos integrar as mais diversas
expressões artísticas disseminadas pelos municípios, como a Orquestra de
Violinos, o Corangelis e a Banda Filarmônica, que nos enviaram os
prefeitos de Goianinha e de Macau.
Até aqui temos trabalhado sob a regência duma ideia, a de
transformamos a Pinacoteca do Estado na sala de visitas da cultura em
Natal, contribuindo assim para a democratização das artes audiovisuais,
como ocorreu recentemente no Dia da Poesia, ao trazermos para audições
públicas grupos musicais oriundos dos municípios de Goianinha e Macau,
ainda pouco divulgados na capital do estado. Foram dois grandes momentos
de uma festa “que bombou”, segundo se ouvia pelas escadarias do Palácio
Potengi, nos quais nos deleitamos com a experiência musical que nos
proporcionou esses grupos em atuação em dois municípios situados em
diferentes regiões do estado, sobre os quais tenho a dizer que tem
colaborado, cada um à sua maneira, para despertar e fortalecer a
autoestima dos jovens através do estudo e da atividade artística, com
que fomos brindados em apresentações no Dia da Poesia na Pinacoteca. Uma
plêiade de talentos jovens bem instruídos e orientados nas sutilezas da
arte musical por três notáveis regentes que estão realizando, e seus
respectivos municípios, uma obra meritória de educação popular. A prova
de que, apesar de governantes ineptos e indiferentes às realizações, a
cultura está em toda parte.
Registre-se aqui a contribuição inestimável da secretária de cultura
de Goianinha, Ana Maria Barbalho Teixeira e sua equipe afinada, e o
presidente da Fundação Municipal de Cultura, de Macau, Chico Paraíba,
que nos mandou a Banda Filarmônica, que encantou a todos e encerrou em
grande estilo a celebração da poesia. Ajudaram-nos a estabelecer um
formato de evento regido pela pluralidade de expressões estéticas que
incluem a literatura, com a revelação de um jovem poeta vindo de Pau dos
Ferros, de apenas 22 anos, Yuri Hícaro, que lançou o seu primeiro livro
ao lado de um veterano, Diógenes da Cunha Lima.
E, ainda em louvor da poesia, tivemos aqui e em Mossoró a presença
inquietante do poeta Thiago de Mello, que nos veio com sua arte da
palavra e sua utopia, sua grande experiência de vida e, sobretudo – para
maior vivacidade da cultura -, suas provocações inspiradoras para todos
nos que pensamos a Pinacoteca do Estado e, creio, também, os que o
ouviram em Natal e em Mossoró, num dia que certamente há de ficar na
história da nossa cultura. Em Natal foi saudado por um outro poeta e
critico literário Paulo de Tarso Correia de Melo.
Tivemos, nesse dia, até para a surpresa de funcionários da
Pinacoteca, um acontecimento que tirou da letargia e do marasmo em que
vivia, sem filosofia e sem alma, o antigo Palácio Potengi. O belo e
sóbrio edifício de linhas neoclássicas atraiu, nesse dia, uma numerosa
plateia que queria ouvir o último grande poeta de sua geração e
deleitar-se com a experiência vivida de um revolucionário que foi para
os de minha geração uma espécie de farol, uma luz que se acendia em
“tempos de chumbo” e glorificava a liberdade e a esperança.
Ao anunciar os frutos de quase três meses de trabalho à frente da
Pinacoteca do Estado, minha equipe e eu, sentimos que aqueles dias
marcados por grandes dificuldades, produziram bons frutos, como a
realização do Dia da Poesia e a parceria que esperamos manter com os
municípios, em nosso empenho na propagação da cultura autêntica, não de
uma cultura de eventos carnavalescos. Sobretudo quisemos, em nossa
primeira ação à frente da Pinacoteca, romper com o comodismo e a falta
de utopias que nos mantém, no âmbito da cultura dita “oficial”,
paralisados, e, ao mesmo tempo, através de um evento que conjugou as
mais diversas formas de expressão artística, estabelecer um novo
paradigma, começando por mudar o que precisa ser mudado. Queremos, não
propaganda, informação e conhecimento; enfim, a cultura como uma força
ativa, não como uma representação vazia da realidade.
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